segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Why Keep On Breaking My Heart

Carmen de Godard (1983), Jean-Luc Godard

"A análise psicodinâmica da etiopatogenia da instabilidade infantil, conduz-nos à problemática da disfuncionalidade e carência parental, sobretudo materna, onde a incapacidade materna de pensar o bebé; a deficiente qualidade da comunicação original entre a mãe e o latente; as falhas no processo de vinculação e a necessidade de uma figura de ligação – constituem desafios para o clínico que aceita encetar um trabalho de psicoterapia, e que tem que se oferecer
como objecto fidedigno e confiável para a criança. Apenas a receptividade contentora e securizante da relação terapêutica, pode favorecer quer a expressão da dor depressiva, quer a deflexão agressiva, na repetição transferencial, tão necessária à evolução e ao crescimento. Não destruído pela agressividade da criança, o psicoterapeuta será reintrojectado como objecto seguro, sólido, e afectivamente bom."

Fernando R. Costa

Viagem


 

domingo, 28 de novembro de 2021

"... Balint considera que o narcisismo se fica a dever a injúrias narcísicas ocorridas na relação entre a criança e o cuidador, o que constitui uma mudança na visão tradicional do narcisismo. As suas considerações referem-se à existência de um amor primário e não de um narcisismo primário, em que a criança desde o nascimento está em relação com o cuidador necessitando ser amada e satisfeita nas suas necessidades, sem que lhe seja feita qualquer exigência. O narcisismo seria assim visto como um resultado de um desapontamento na procura deste amor primário: se eu não sou suficientemente amado pelo mundo ou não recebo gratificação suficiente, eu devo amar-me e satisfazer a mim próprio.”                          
I. Mesquita IBRAFP - Instituto Brasileiro de Filosofia 

"Pauline à la plage" (1983), Éric Rohmer

"Je ne sais quoi."

Matisse

Gabrielle Roth

 


segunda-feira, 22 de novembro de 2021

Jane B. for Agnes V. (1988), Agnès Varda

Um Mergulho no Passado (2015), Luca Guadagnino

"O narcísico, como o autista e o psicótico – não fossem todos eles egocêntricos –, julgando ver o mundo, não vê senão a sua barriga. Para ele, o centro do mundo é o próprio umbigo; pelos outros não se interessa minimamente, não o preocupam nem o ocupam, é como se não existissem – a não ser na medida em que lhe possam ser úteis (o seu investimento objectal é apenas funcional ou instrumental – o outro é usado como um instrumento, para realizar uma função de que não dispõe ou é débil). Centra-se em si mesmo, gravita à volta da sua nulidade, pensando – talvez – que com isso pode acender o pavio da sua humanidade extinta. Sim, porque a humanidade gera-se no interesse pelos outros humanos; de contrário, não existe: apaga-se ou não chega a nascer. Mas quem disse “nascer” e “existir”? Responde-se: nasce-se no “útero mental” do objecto, no pensamento e no afecto de quem nos deseja, ama e sonha, de quem gosta e aposta em nós; vive-se, existe-se, se esse investimento em nós persiste. A tragédia da desordem mental, seja ela a doença com sintomas ou a perturbação da personalidade com traços patológicos, é esta: a falta ou a perda desse “ninho da alma”, dessa “Terra Prometida”."

A. Coimbra de Matos

terça-feira, 2 de novembro de 2021

"AS ROMÃS DE NOVEMBRO
abriste a porta e disseste que
toda a casa cheirava a alfazema
enquanto largavas sobre a mesa
as romãs de novembro
e olhaste para as paredes da sala como se
por entre as estantes carregadas de livros
rompessem estevas urzes lilazes
abriste depois a porta do armário
procurando para as romãs um
prato do serviço de vista alegre que
querias sempre à tua espera mesmo que
o jantar se esquecesse no forno
alfazema repetiste
a palavra saboreada com o ar
de quem tinha deixado 
o passado inteiro no elevador
e finalmente
encontrado o caminho de damasco
(.....)"

Alice Vieira, in OLHA-ME COMO QUEM CHOVE-Poesia (D. Quixote, 2018)

Katia Chausheva