"AS ROMÃS DE NOVEMBRO
abriste a porta e disseste que
toda a casa cheirava a alfazema
enquanto largavas sobre a mesa
as romãs de novembro
e olhaste para as paredes da sala como se
por entre as estantes carregadas de livros
rompessem estevas urzes lilazes
abriste depois a porta do armário
procurando para as romãs um
prato do serviço de vista alegre que
querias sempre à tua espera mesmo que
o jantar se esquecesse no forno
alfazema repetiste
a palavra saboreada com o ar
de quem tinha deixado
o passado inteiro no elevador
e finalmente
encontrado o caminho de damasco
(.....)"
Alice Vieira, in OLHA-ME COMO QUEM CHOVE-Poesia (D. Quixote, 2018)