sexta-feira, 22 de março de 2024

"A poesia é para ser livre. Não é estanque. Não existem academias ou falsas humildades. Falsas volúpias. Não está na escola ser-se o que não se é. Não devia. O útero do papel no limite, não é formal. É gravidez. É luz. A liberdade não é, portanto, formal. É digna mas não formal. E este útero de que falo, é livre. Os poemas, a escrita, estão sempre correctos desde que se pareçam com borboletas passando as asas na nossa pele. A poesia é uma borboleta. Atentíssima. Está na origem dos jardins, da fruta quieta na árvore, das flores desassossegadas. Está na liberdade do voo dos pássaros. Não termina nunca. O fim do mundo é, só por si, um poema lindo. É para ser livre. Para se ter espaço. A poesia não analisa nada. Realiza, constrói e destrói. Mata. “Estrelas a mais barrando a subida” - pouca gente lhe chega. A minha posição em relação a ela, é a de um animal submisso. Ela toca-me e abro as mãos, estendo os braços. Abro os olhos. Sou a águia. Vejo tudo. Respiro. Voo. Caço. É para ser livre. Ela caminha soberba. Não é o paraíso. A poesia é a mais ilustre ave de rapina." Patrícia Baltazar. CATAPULTA, ed. Do Lado Esquerdo

"Como se a Terra corresse Inteirinha atrás de mim O medo ronda-me os sentidos Por abaixo da minha pele Ao esgueirar-se viscoso Escorre ...