"Procuro teu perfume, teu ombro, tua mão no respirar morno das casas. Revolvo-me no branco dos lençóis, como mar se revolve contra as paredes, em maré viva. O sopro do teu sono humedece-me o peito. Manhã confusa, nevoenta luz onde se quebra o pesadelo. Procuro-te peixe alucinante, no fundo lodoso de mim. O dia nasce com um travo a sol frio, e eu dum lado para o outro, dentro do exíguo quarto. O ténue tecido das cortinas separa o sonho vivido em ti da cidade há muito acordada. Prolongo esse instante de ilusão, espio teu corpo desesperadamente nu. No espelho já não sei quem sou."
Al Berto. O medo. Trabalho Poético. 1987. Alberto Pidwell Tavares e Contexto, Editora. p.79 e 80