Ametista
domingo, 29 de junho de 2025
"Nas relações humanas, a escuta que respeita o tempo do outro é também um gesto de amor. Amor no sentido mais psicanalítico possível: a suspensão do narcisismo próprio em nome do reconhecimento do outro como sujeito atravessado pelo desejo e pela falta.
Em sua clínica, Lacan aponta: “o que caracteriza a análise não é o dizer, mas o não saber o que se vai dizer.”. (LACAN, 1998). Porque o sujeito, esse ser de linguagem, não se revela de uma vez só. Ele se constrói na própria tentativa de dizer. E se não suportarmos esse tempo, o tempo da fala e do desejo, o que se produz é um corte prematuro. Uma ruptura na formação do sentido.
Em alguns momentos, é necessário pausa. Retirar-se do mundo - e, sobretudo, da demanda de compreensão do outro, para elaborar em si respostas. Nem tudo aquilo que se apresenta diante de nós tem resposta clara, lógica e transparente. Como se fosse possível traduzir o que sente com a mesma pressa com que se responde uma mensagem.
Porque há algo na experiência humana que escapa ao imediato. Um resto, um excesso, algo que não se deixa apreender de pronto. Por isso, é preciso sustentar o intervalo. O não saber. Permitir que o sentido, se vier, venha da elaboração de quem tenta, aos poucos, dizer de si para o outro e em relação ao outro.
A escuta psicanalítica não se apressa, ela suspende o saber. Espera que o sujeito se autorize a falar, sem ser coagido pela demanda de clareza imediata.
Pois há algo na espera - e, mais ainda, no silêncio, que só se revela com o tempo. Chama-se elucidação. Elaboração de sentido, do saber nomear o desejo, o afeto.
Querer compreender imediatamente é impedir que o outro se escute. É negar a ele a chance de, no seu próprio tempo, dar forma ao que ainda nem se tornou palavra. Talvez o que ele precise dizer ainda nem se formou direito em sua consciência — e já há uma demanda por resposta. Por isso, é preciso ter a delicadeza de esperar. De não tomar o silêncio como recusa, a pausa como resposta ou a ausência como desinteresse."
LACAN, Jacques. O Seminário, Livro 11: Os Quatro Conceitos Fundamentais da Psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998, p. 29.
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